Talibã desativa fibra ótica
Vivaldo José Breternitz (*)
Prosseguindo em sua obra de destruição do Afeganistão, o regime islâmico do Talibã está desativando as redes de fibra ótica do país, com o pretexto de “prevenir a imoralidade”.
Ao que consta, a medida já atingiu 10 das 34 províncias do país, incluindo as regiões de Helmand, Kandahar, Herat, Kunduz e Balkh, a partir de 15 de setembro.
Apesar do corte da fibra, algumas regiões ainda contam com redes móveis ativas; no entanto, esse serviço é lento e caro, o que limita fortemente o acesso à internet da população e dos quase sete milhões de afegãos que vivem fora do país, fugindo do Talibã, e que usam a rede para conectarem-se aos seus parentes e amigos que ainda estão no país.
A suspensão começou no norte do país, mas veículos de mídia locais afirmam que o bloqueio deve se estender a todo o território afegão. Porta-voz do Talibã declarou que “uma alternativa será construída dentro do país para as necessidades do país”. Analistas interpretam a fala como indício da criação de uma rede doméstica com largura de banda reduzida ou de um sistema de internet controlado internamente, semelhante ao modelo norte-coreano.
A decisão vem gerando protestos. Empresários ouvidos pelo canal de notícias britânico Sky News demonstram preocupação com os efeitos das restrições sobre bancos, comerciantes digitais e veículos de comunicação.
Grupos de defesa dos direitos das mulheres também alertam para as consequências sobre meninas que, impedidas de frequentar escolas, dependem da internet para acessar conteúdos educacionais. Também serão prejudicadas mulheres que usam a rede para conseguir alguma renda, especialmente vendendo trabalhos artesanais pela internet.
É mais um retrocesso em termos de liberdade do povo afegão, especialmente das mulheres, que vem sofrendo uma cada vez maiores restrições em termos de participação na sociedade.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – vjnitz@gmail.com.
