Idiotização e inteligência artificial
Vivaldo José Breternitz (*)
Mais uma vez, foi publicado um estudo que indica que pessoas que utilizam continuamente inteligência artificial generativa podem apresentar menor desempenho cognitivo em comparação com aquelas que não dependem dessa tecnologia. As conclusões fortalecem críticas que afirmam que a IA "deixa as pessoas mais burras".
A pesquisa mais recente foi realizada pela Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, com mais de 4.500 participantes. O estudo analisou as diferenças cognitivas entre usuários de modelos de linguagem como o ChatGPT e pessoas que utilizaram o Google para realizar pesquisas. Ambos os grupos receberam a mesma tarefa: descobrir como iniciar uma horta doméstica. Parte dos participantes usou IA generativa; o restante utilizou um mecanismo de busca tradicional.
Os resultados mostraram que aqueles que recorreram ao ChatGPT apresentaram um conhecimento mais superficial sobre o tema e trouxeram sugestões significativamente piores do que os que utilizaram o Google. Segundo os pesquisadores, isso ocorre porque os modelos de inteligência artificial trazem as informações de forma condensada, poupando os usuários da tarefa de buscar e sintetizar conteúdo — processo que, por sua natureza ativa, favorece o aprendizado mais profundo.
“Aprender com IA generativa é comparável a ver a resposta de um problema de matemática em vez de tentar resolvê-lo sozinho”, concluiram os autores. A superficialidade, afirmam, reduz o envolvimento do usuário e prejudica a originalidade e utilidade do conhecimento adquirido.
O estudo da Universidade da Pensilvânia segue-se a outro, divulgado semanas antes pelo MIT, que analisou a atividade neural de estudantes universitários durante o uso de IA em tarefas acadêmicas. A pesquisa, baseada em eletroencefalogramas, mostrou que o uso do ChatGPT levou a uma queda significativa na atividade cerebral — um fenômeno batizado de “dívida cognitiva”.
Embora a metodologia do MIT tenha sido questionada — sobretudo por não ter sido revisada por pares e envolver uma amostra reduzida —, o debate levantado é relevante. Críticos apontam que menor atividade cerebral não significa necessariamente menor inteligência, já que pessoas mais habilidosas tendem a executar tarefas com menos esforço mental.
Ainda assim, a ideia de que delegar tarefas intelectuais a aplicativos prejudica o desenvolvimento do raciocínio não é exatamente nova. Aprender exige prática, e substituir a prática por automação pode empobrecer o aprendizado. A própria internet, lembram alguns, já vem diminuindo nossa atividade cognitiva há décadas.
Em meio a um cenário de trapaças escolares generalizadas com o uso de IA, o alerta é claro: se um aluno não consegue escrever uma redação sem ajuda do ChatGPT, talvez o problema não esteja só na ferramenta, mas também em sua formação básica.
Pais, professores e alunos devem preocupar-se com esse tema.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor e consultor – vjnitz@gmail.com.