Nvidia diz que IA não é uma bolha
Vivaldo José Breternitz (*)
Em meio ao crescente debate sobre uma possível bolha no setor de inteligência artificial, o CEO da Nvidia Jensen Huang declarou que não acredita nisso, contrariando alertas de analistas, pesquisadores e grandes empresas.
Falando à Bloomberg, Huang classificou o momento atual como um “ciclo virtuoso” e anunciou uma série de parcerias estratégicas que reforçam a posição da Nvidia como líder global em hardware para IA.
Entre essas parcerias, destacam-se a colaboração com a Oracle para construir um supercomputador de IA para o Departamento de Energia dos EUA, o desenvolvimento de tecnologia 6G em parceria com a Nokia e o fornecimento de chips para a expansão dos robotáxis da Uber.
Essas iniciativas levaram a Nvidia a atingir uma marca histórica: US$ 5 trilhões em valor de mercado, superando gigantes como Apple e Microsoft.
No entanto, o domínio da empresa no setor de hardware para data centers de IA vem sendo desafiado: a Qualcomm lançou dois novos chips para IA, a Microsoft busca reduzir sua dependência da Nvidia, e a AMD firmou um contrato de US$ 1 bilhão com o Departamento de Energia também para construir supercomputadores semelhantes aos da Nvidia.
A complexa rede de parcerias e investimentos entre empresas interdependentes gera especulações sobre um possível “investimento circular”, um sinal clássico de bolha de mercado. Embora Nvidia e AMD defendam esse ciclo como mutuamente benéfico, especialistas comparam o cenário atual ao do final dos anos 1990, quando a bolha das empresas de internet estourou, gerando uma onda de quebras e enormes prejuízos para investidores de todos os portes.
As advertências se intensificam: Deutsche Bank, MIT e até o CEO da OpenAI, Sam Altman, alertam que o boom da IA pode superar a bolha da internet em termos de impactos na economia como um todo. Deve-se levar-se em conta também as revelações do MIT, no sentido de que 95% dos empreendimentos em IA não geram lucro.
A Nvidia é uma exceção nesse cenário: seus produtos estão instalados na maioria dos data centers de IA e a empresa já representa cerca de 8% do índice S&P 500.
Mesmo que haja a bolha da IA e que ela eventualmente estoure, o valor de longo prazo da tecnologia provavelmente deve prevaleer. A revista Wired comparou o atual momento a outras revoluções tecnológicas, como a eletricidade, o rádio e a aviação comercial, todas marcadas por especulações e quebras antes de se tornarem pilares da vida moderna.
A diferença são os valores envolvidos e o tamanho dos danos gerados por um eventual estouro da bolha.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – vjnitz@gmail.com.